sábado, 22 de junho de 2013

O bolo de velas acesas - Yago Bezerra Pessoa


Como é bom viajar pelas estradas intermitentes do interior cearense, cortar por meio delas a caatinga verdejante, assim deixada pelo período chuvoso que tanto acalenta a flora, a fauna e a humanidade deste sertão de tamanho braseiro. 
 Em uma de minhas viagens noturnas, pois considero que viajar pelo sertão torna-se mais encantador em noites enluaradas, pude por meio da janela do ônibus veloz e tranquilo em que ia, perceber as disparidades e as belezas desta minha terra que com tanto bem a quero. 
 A janela lateral do assento em que estava revelava-me mais do que um reflexo imagético das coisas que passavam lá fora, deixadas pela estrada a ser consumida avante; mostrava-me uma beleza ímpar, não sentida em outras estâncias conhecidas. Trazia-me a janela, uma relação de diferentes patamares especialmente bonitos de se ver, eram eles os dois componentes mais enamorados do Ceará, sertão e serra. 
 O sertão encontrava-se friorento, com um vento fino e composto pelas restantes partículas de água deixadas pela recente precipitação da tarde, tornando necessário ao viajante fechar sua vidraça e contentar-se com o encanto por trás do vidro transparente e polido. 
 Mais acima da linha do horizonte, via-se aquela construção forte e imponente, difícil de ser pensada em sua formação, dada tamanha modelagem e solidez. Eram elas as serras, vizinhas circundantes do vale em que o homem abriu caminhos de passagem e descobrimento, do que antes era novo e inocente. 
Estas construções rochosas fizeram-me trabalhar a imaginação e chegar a compará-las com lembranças infantis dos bolos de aniversários mais bonitos de que tenho lembrança. Suas luzinhas brilhosas e faiscantes assemelham-se ao acender e reacender das velas em constante teimosia ao assopro que as pretende tornar escuridão e esquecimento. A lua a pino iluminava a estrada, as verdes pastagens, sombreava os juazeiros em redor, tornava a noite fascinante de se assistir, propícia a uma longa reflexão ou quem sabe, a uma fértil roda de conversas em varandas de luzes apagadas.

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